BARRA NOVA BAHIA
Publicado em 2 de fev de 2019
OLÁ, SOU GIDELBERTO. Este lugarejo chama-se Barra Nova, apelidado
“Defunto Lavado” e pertencente ao município de Itabela, na Bahia.
Barra Nova não passa de um aglomerado de casas com terrenos baldios e
lotes disponíveis à venda.
Quase que diariamente descem vários caminhões por esta estrada de chão
de barro e quando chove a estrada fica intransitável. A maioria desses
caminhões transportam godo de corte para reabastecer os açougues de Itabela e
outras cidades da região.
São vinte quilômetros de estrada esburacada de chão batido até a BR-101.
Barra Nova possui aproximadamente 300 casas, uma pequena Praça
ajardinada e apenas uma rua com calçamento de paralalalepídeos.
Sua população é de aproximadamente 1.200 pessoas, sem contar as demais
pessoas de todo o município.
Um povoado, vilarejo ou lugarejo é um assentamento humano constituído por poucas casas, ou seja, de pequenas proporções. É
geralmente rural e demasiado pequeno para ser considerado
uma aldeia, embora por vezes o termo é usado para um tipo
diferente de comunidade.
Um povoado geralmente depende da cidade que a contém para serviços
municipais e do governo. Um povoado poderia ser descrito como as zonas rurais
ou suburbanas equivalente a um bairro de uma cidade ou aldeia. A área de um
povoado pode não ser exatamente definida e pode simplesmente ser contida dentro
do código postal do seu correio, ou pode ser definida pela sua escola ou
bombeiro do distrito.
A comunidade de Barra Nova é alegre, divertida e muito hospitaleira.
Apesar da falta de emprego assalariado, muitos trabalham como diaristas ou
empreiteiros em roças de café, cana, mamão mandioca e pimenta-do-reino.
Barra Nova ou “Defunto Lavado” também já teve seu tempo de glória. Marcada no imaginário popular por lendas que
retratam o passado de extravagâncias dos ricos e famigerados coronéis,
imortalizados pela literatura de Jorge Amado, o sul da Bahia luta para
recuperar o prestígio de tempos atrás da cultura que moldou a identidade da
região: o cacau.
Era um orgulho para o produtor chegar a São Paulo ou ao Rio de Janeiro e
dizer que trabalhava com cacau. Mas, depois da vassoura de bruxa, os cacauicultores
viraram motivo de piada. Muitos empobrecemos de uma hora para a outra.
Os números não deixam dúvida sobre o impacto desse fungo. Na safra
recorde de 1984/1985, mais de 400 mil toneladas de amêndoas foram colhidas no
país. Porém, em apenas 15 anos, esse índice caiu 60%. Recentemente, com o desenvolvimento
de técnicas de enxertia de hastes de plantas resistentes à vassoura naquelas
que não suportam a doença – também chamada de “clonagem” – pela Comissão Executiva do Plano da
Lavoura Cacaueira (Ceplac), órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, as plantações da Bahia vêm
timidamente recuperando o fôlego. Mas nada
comparável ao esplendor de décadas passadas.
A doença que ataca as árvores deixando suas folhas com o aspecto de uma
vassoura de bruxa definitivamente redesenhou a paisagem local. Os coronéis que
mandavam e desmandavam são praticamente página virada. “A agricultura familiar
hoje responde pela maior parte da produção”, afirma Gustavo Moura, diretor da
Ceplac. Além disso, muitos trabalhadores rurais desempregados foram obrigados a
buscar emprego nas cidades, inchando importantes centros de turismo nas
redondezas, como Porto Seguro. Por outro lado, a crise fortaleceu os movimentos
que lutam pela reforma agrária e, em certa medida, democratizou o acesso à
terra. Diversos assentamentos foram criados em lotes abandonados por grandes
fazendeiros falidos. Na opinião de Moura, “a crise também enxugou o perdulário.
Só sobraram os profissionais”.
O cacaueiro é uma espécie nativa das florestas tropicais do continente
americano e suas origens são carregadas de mitologia. Para os astecas,
tratava-se de uma árvore sagrada, presente divino enviado à civilização que se
desenvolveu no México. Já naquela época o cacau se destinava à produção de uma
espécie rústica de chocolate – alimento que impressionou os colonizadores espanhóis pelo seu alto teor energético.
Guerreiros astecas atravessavam dias sustentando seus corpos apenas com as
amêndoas daquele fruto. Por esse motivo, ele
foi batizado cientificamente com o nome
theobroma cacao, quer dizer, manjar dos deuses.
No Brasil, o berço do cacau foi a região amazônica por conta das altas
temperaturas e das chuvas abundantes, ideais para o crescimento da planta. Mas,
em meados do século 18, a introdução das primeiras sementes no sul da Bahia,
oriundas do Pará, escreveu um novo capítulo na história dessa cultura. São
vários os motivos que explicam seu florescimento na terra de Jorge Amado. Em
primeiro lugar, o clima quente e úmido, bastante similar ao do seu habitat
natural, facilitou o processo de adaptação do cacaueiro, que também precisa da
sombra oferecida por árvores de maior estatura para sobreviver. “Além disso não
havia uma economia desenvolvida naquela região. Faltavam investimentos maciços
desde a época das capitanias hereditárias de Ilhéus e de Porto Seguro”, explica
Angelina Garcez, historiadora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Os
engenhos de açúcar não vingaram naquela parte do estado e, por essa razão, a
selva nativa ficou praticamente intocada, à espera dos desbravadores que, anos
depois, derrubariam a vegetação mais fina para plantar os pés de cacau,
resguardados pela proteção da Mata Atlântica.
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